Jessica Polar | Life of Pix |
75% das pessoas com depressão não sabem que estão
doentes e por isso sofrem sem tratamento adequado
Uma silenciosa epidemia está assustando cientistas do mundo todo.
Estima-se que só no Brasil 10 milhões de indivíduos sofrem com a doença já
considerada o “Mal do Século XXI”.
Estamos falando da “depressão”, uma moléstia que, segundo a Organização
Mundial da Saúde, é avaliada como uma das doenças mais caras para a sociedade,
pois o consumo de antidepressivos no País movimenta cerca de 140 milhões de
dólares por ano, além dos prejuízos decorrentes da perda de produtividade e dos
afastamentos no trabalho, sem contar os custos do sofrimento humano que não
podem ser mensurados.
Estima-se que devido ao desconhecimento das pessoas sobre o tema,
somente 1 em cada 4 indivíduos com depressão tem conhecimento do transtorno que
o aflige e consegue buscar auxílio. Ou seja, 75% das pessoas com depressão não
sabem que estão doentes e por isso sofrem sem tratamento adequado, apresentando
perda da autoestima e da capacidade de se concentrar, o que leva a dificuldades
profissionais e familiares.
É natural que as atribulações do dia a dia, os acertos e erros, os
problemas comuns no trabalho e nos relacionamentos causem variações temporárias
no humor de um indivíduo. É também normal e até esperado que um indivíduo fique
alguns dias sem ânimo e triste após perder um ente querido ou ir mal em uma
prova. Isso, porém, não significa que a pessoa está com depressão. Vivenciar e
lidar com esses períodos de tristeza ou de luto fazem parte do desenvolvimento
da personalidade humana.
Entretanto, em certos indivíduos ocorrem algumas alterações químicas no
cérebro – substâncias responsáveis pela alegria e equilíbrio do humor –, pois a
serotonina, a noradrenalina e a dopamina estão em desequilíbrio e isso
desencadeia a depressão: um estado de humor acabrunhado e de tristeza, que não
estão diretamente relacionados a experiências tristes.
Pessoas com depressão se sentem infelizes a maior parte do tempo,
apresentam interesse diminuído ou perda de prazer para realizar as
atividades de rotina (estado conhecido como anedônia), sensação de inutilidade
ou culpa excessiva, dificuldade de concentração, fadiga ou perda de energia,
distúrbios do sono (tanto pode ocorrer insônia como sono excessivo), perda ou
ganho significativo de peso, mesmo em alteração na alimentação, bem como ideias
recorrentes de morte ou suicídio.
Conhecer esses sintomas é importante para que o indivíduo possa sair do
grupo dos 75% desconhecedores da doença e consiga buscar tratamento que
consiste em psicoterapia e, nos casos graves, no uso de medicamentos conhecidos
como antidepressivos.
É importante ressaltar, por fim, que diversos estudos e pesquisas
científicas estão evidenciando a importância da religiosidade na prevenção da
depressão. Um interessante trabalho publicado no Journal of Adolescent
Health, em 2005, demonstrou o seguinte: indivíduos que relatam ter uma
religião e frequentam serviços religiosos (como a Santa Missa) apresentam menos
depressão e menos comportamentos de risco à saúde (como consumo de substâncias
ilícitas). Tais estudos sugerem que a religiosidade promove a resiliência
(capacidade de lidar com situações adversas) e hábitos de vida mais seguros, o
que interfere positivamente na saúde mental da pessoa.
Mais: um estudo publicado no periódico Jama Psychiatry, em
2013, realizado na Universidade de Columbia (EUA), com 103 pessoas com idades
entre 18 e 54 anos, demonstrou que os indivíduos com chances de desenvolver
depressão têm a espessura do córtex cerebral mais fina, ao passo que as
religiosas, por isso com menor risco de depressão, têm uma espessura mais
grossa.
Trabalhos anteriores a esse já haviam demonstrado que entre pessoas com
predisposição genética à depressão aquelas que são religiosas podem ter um
risco até 90% menor de desenvolver o transtorno do que as que não são
religiosas.
Note-se que são dados oferecidos pela ciência experimental e não pela
fé.
Vanderlei de Lima é filósofo; Igor
Precinoti é médico, pós-graduado em Medicina Intensiva (UTI),
especialista em Infectologia e doutorando em Clínica Médica pela USP.
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