Por Andrey Arkusha/shutterstock |
Todos nós temos a necessidade de desabafar sobre
uma relação que não está indo bem ou sobre um mal-estar que nos afetou. Porém,
é preciso fazer isso da maneira correta
Se existe algo que tenho aprendido com a idade e com o passar dos anos,
é a arte de conviver. E olha que antes de aprender, a gente erra muito, erra
feio. Porém, com o tempo e alguns enganos, vamos adquirindo um certo tipo de
elegância e polidez que vão além da educação. É algo sutil, mas que faz muita
diferença, e que começa com a capacidade de ouvir mais do que de falar, e
principalmente de manter distância das rodas de fofoca.
Quando abro a boca para falar mal de alguém, minha energia se canaliza
para a mesquinhez, para a arrogância, para o julgamento frívolo e fútil. Essa
energia ruim permanece dentro de mim, e é com ela que irei me alimentar,
trabalhar, descansar. E sem perceber desperdiço minha vitalidade, os dons que
recebi de Deus, a possibilidade de usar a palavra para algo mais assertivo e
produtivo.
A vida já é tão complicada, já nos esforçamos tanto para vencer cada
dia… que se não pudermos ter bons pensamentos a favor das pessoas, é melhor
silenciar. Silenciar é um gesto de sabedoria, de encontro com o que é realmente
importante e deve ser levado adiante, de retomada do equilíbrio, de regeneração
das mágoas e busca do bem-estar.
Ninguém sabe o que o futuro lhe reserva. E por mais clichê que seja,
realmente “a vida dá voltas”, e pode ser que aquilo que você tanto recriminou e
condenou na vida alheia, venha acontecer na sua própria vida.
Adoro a frase de Fernando Pessoa que diz: “Segue o teu destino, rega as
tuas plantas, ama as tuas rosas. O resto é a sombra de árvores alheias”. Pois é
assim que deve ser. Cuide da sua vida, lide com as suas dificuldades, apare
seus defeitos, aprimore suas qualidades e cure suas mágoas ao invés de ciscar
pela vida alheia, se incomodando com que o outro faz ou deixa de fazer. Limpe
seus olhos antes de falar sobre o cisco nos olhos do outro.
Tanta coisa a ser feita em nossa casa antes de apontarmos a sujeira na
casa do vizinho! Tantas possibilidades de nos aprimorarmos como seres humanos,
como seres espirituais, praticando a caridade, a generosidade e a compaixão,
que não deveria sobrar tempo para recriminações, julgamentos, hipocrisia e
falatórios em nossa vida. Tudo isso é desorganização, é perda de foco, é se
afastar daquilo que viemos fazer nesse mundo: amar e sermos amados.
Diariamente somos bombardeados com ondas de indignação coletiva, e somos
tentados a reproduzir essa raiva, essa indignação, esse ressentimento. Porém,
deveríamos nos proteger dessas mensagens de ódio e segregação. Deveríamos
buscar um local de silêncio dentro de nós mesmos e novamente nos conectarmos
com o que é importante, com o que nos liga a Deus, com o que vai acrescentar
algo de bom em nossa vida.
Todos nós temos a necessidade de sermos ouvidos. De desabafarmos sobre uma
relação que não está indo bem ou sobre um mal-estar que nos afetou. Porém, é
preciso fazer isso da maneira correta, abrindo nosso coração para a pessoa
certa, que irá nos ouvir com discrição e cuidado. Isso é diferente de fofocar,
de julgar, de espalhar falatórios sem um pingo de responsabilidade.
Quase tudo na vida pode ser praticado e virar hábito. Assim como nos
condicionamos a falar mal dos outros, aprendendo com os maus exemplos que
tivemos vida afora, podemos recolher nossas cadeiras da calçada e começar a
praticar o simples hábito de calar a boca. De não entrarmos em brigas alheias
botando mais lenha na fogueira; de não cairmos em tentação murmurando contra os
outros pelas costas; de não ocuparmos nosso precioso tempo nos divertindo com
fofocas; de silenciar e só abrir nosso coração para quem confiamos.
Finalmente há um ditado que diz: “Não cuspa no prato que você comeu”.
Então, antes de difamar alguém que já te fez feliz, que já foi importante para
você, que já teve algum papel na sua vida, pare e pense. Se em algum momento
houve uma parceria, uma conexão, até mesmo uma troca de favores, não é justo
nem digno falar mal. É feio, deselegante, grosseiro e vulgar. E mesmo que você
tenha saído ferido ou prejudicado, não torne pública a sua mágoa, a sua decepção,
a sua raiva ou tristeza. Não mande indiretas pelas redes sociais e descubra que
o silêncio pode ser a melhor resposta. Aprenda a arte de conviver e constate o
quanto é elegante ser discreto.
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