Descubra o que está por trás de uma das frases mais
conhecidas do Pai-Nosso
Pergunta
Sempre achei que a frase do Pai-Nosso “Seja feita a vossa vontade” fosse um convite a aceitar a vontade de Deus; de fato, em momentos difíceis da minha vida, sempre foi muito útil refletir sobre estas palavras que dizemos com frequência na oração. Recentemente, durante um encontro, um padre nos convidou a ler esta frase como um convite a agir, a trabalhar para que a vontade de Deus seja feita no mundo: uma exortação ao compromisso dos cristãos na construção de uma sociedade segundo o que Deus quer. Qual seria, então, a interpretação mais correta, para a Igreja? Ou será que as duas leituras são corretas e podem ser integradas?
Resposta de Filippo Belli, docente de teologia bíblica
Para entender o Pai-Nosso, é preciso olhar para Aquele que nos ensinou esta oração. É a sua oração que se torna nossa. Não existe oração mais santa, mais exata, mais verdadeira que esta, porque ela surge da própria relação que Jesus tem com o Pai no Espírito Santo. Ele não nos passou uma formulação, e sim nos transmitiu o conteúdo do seu diálogo com o Pai. Por isso, a graça destas palavras é imensa, e a riqueza do seu significado, como de cada palavra que sai da boca de Deus, é inesgotável.
Por este motivo, inclusive sua interpretação ao longo da história até o dia de hoje não deixou de interpelar teólogos, exegetas e santos escritores (recordemos os mais antigos e famosos, como Tertuliano, Orígenes, Cipriano, Agostinho, Tomás de Aquino), bem como indivíduos fiéis e pastores. E é bom que seja assim, para que estas palavras não se atrofiem em uma fórmula estereotipada.
A pergunta, portanto, é pertinente, e a resposta se encontra dentro da sua formulação. De fato, não se pode separar a disposição interior do cristão de sua prática efetiva. Dessa maneira, não se pode simplesmente concordar com o coração e a vontade à vontade divina sem que esta disposição interior tenha uma correspondência em nossa maneira de agir e atuar nas diversas situações da vida.
O problema que a pergunta traz implicitamente me parece ser outro, ou seja, uma concepção estática, determinista do que é a vontade divina, à qual o homem deveria, inevitavelmente e muitas vezes de má vontade, ceder. De fato, esta é a impressão que frequentemente temos da vontade de Deus, ou seja, como se ela fosse algo inamovível e que não corresponde à nossa vontade. Daí o esforço em aceitá-la.
Que a vontade de Deus se manifeste por meio das diversas circunstâncias da vida – muitas vezes inevitáveis – a torna ainda mais dura de acolher, porque não há nada mais imprevisível e misterioso que as circunstâncias que vivemos e que dificilmente podemos controlar.
No entanto, a Bíblia nos dá testemunho, da primeira à última página, da radical bondade e benevolência de Deus, de uma obstinada e insistente vontade do bem da sua parte, da positiva disposição da criação, da sua vontade de salvar o homem e de favorecer a vida até sua plenitude.
Deus convidou o ser humano a participar dessa vontade do bem desde o início, dando-lhe os meios necessários para realizar este bem. Portanto, somos por natureza orientados à vontade do bem de Deus, para participar e colaborar, junto dele, com a vida.
Mas, desde sua origem, a humanidade também vive uma fratura (que a Bíblia documenta continuamente) entre a própria liberdade e a vontade de Deus, fazendo-as parecer antagonistas, inclusive inimigas. O antigo pecado original está precisamente nesta discrepância entre a vontade humana e a divina, razão pela qual sentimos às vezes que a vontade de Deus é alheia a nós.
Em Jesus Cristo, esta fratura foi consertada, a ferida foi curada, a oposição foi conciliada. E é necessário também ser conscientes de como isso aconteceu. O Evangelho nos mostra o caminho de Jesus em contínua tensão para fazer a vontade do Pai. Não sem dificuldade. Por: Toscana Oggi
Sempre achei que a frase do Pai-Nosso “Seja feita a vossa vontade” fosse um convite a aceitar a vontade de Deus; de fato, em momentos difíceis da minha vida, sempre foi muito útil refletir sobre estas palavras que dizemos com frequência na oração. Recentemente, durante um encontro, um padre nos convidou a ler esta frase como um convite a agir, a trabalhar para que a vontade de Deus seja feita no mundo: uma exortação ao compromisso dos cristãos na construção de uma sociedade segundo o que Deus quer. Qual seria, então, a interpretação mais correta, para a Igreja? Ou será que as duas leituras são corretas e podem ser integradas?
Resposta de Filippo Belli, docente de teologia bíblica
Para entender o Pai-Nosso, é preciso olhar para Aquele que nos ensinou esta oração. É a sua oração que se torna nossa. Não existe oração mais santa, mais exata, mais verdadeira que esta, porque ela surge da própria relação que Jesus tem com o Pai no Espírito Santo. Ele não nos passou uma formulação, e sim nos transmitiu o conteúdo do seu diálogo com o Pai. Por isso, a graça destas palavras é imensa, e a riqueza do seu significado, como de cada palavra que sai da boca de Deus, é inesgotável.
Por este motivo, inclusive sua interpretação ao longo da história até o dia de hoje não deixou de interpelar teólogos, exegetas e santos escritores (recordemos os mais antigos e famosos, como Tertuliano, Orígenes, Cipriano, Agostinho, Tomás de Aquino), bem como indivíduos fiéis e pastores. E é bom que seja assim, para que estas palavras não se atrofiem em uma fórmula estereotipada.
A pergunta, portanto, é pertinente, e a resposta se encontra dentro da sua formulação. De fato, não se pode separar a disposição interior do cristão de sua prática efetiva. Dessa maneira, não se pode simplesmente concordar com o coração e a vontade à vontade divina sem que esta disposição interior tenha uma correspondência em nossa maneira de agir e atuar nas diversas situações da vida.
O problema que a pergunta traz implicitamente me parece ser outro, ou seja, uma concepção estática, determinista do que é a vontade divina, à qual o homem deveria, inevitavelmente e muitas vezes de má vontade, ceder. De fato, esta é a impressão que frequentemente temos da vontade de Deus, ou seja, como se ela fosse algo inamovível e que não corresponde à nossa vontade. Daí o esforço em aceitá-la.
Que a vontade de Deus se manifeste por meio das diversas circunstâncias da vida – muitas vezes inevitáveis – a torna ainda mais dura de acolher, porque não há nada mais imprevisível e misterioso que as circunstâncias que vivemos e que dificilmente podemos controlar.
No entanto, a Bíblia nos dá testemunho, da primeira à última página, da radical bondade e benevolência de Deus, de uma obstinada e insistente vontade do bem da sua parte, da positiva disposição da criação, da sua vontade de salvar o homem e de favorecer a vida até sua plenitude.
Deus convidou o ser humano a participar dessa vontade do bem desde o início, dando-lhe os meios necessários para realizar este bem. Portanto, somos por natureza orientados à vontade do bem de Deus, para participar e colaborar, junto dele, com a vida.
Mas, desde sua origem, a humanidade também vive uma fratura (que a Bíblia documenta continuamente) entre a própria liberdade e a vontade de Deus, fazendo-as parecer antagonistas, inclusive inimigas. O antigo pecado original está precisamente nesta discrepância entre a vontade humana e a divina, razão pela qual sentimos às vezes que a vontade de Deus é alheia a nós.
Em Jesus Cristo, esta fratura foi consertada, a ferida foi curada, a oposição foi conciliada. E é necessário também ser conscientes de como isso aconteceu. O Evangelho nos mostra o caminho de Jesus em contínua tensão para fazer a vontade do Pai. Não sem dificuldade.
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